A Conferência dos Religiosos do Brasil caminha para a sua vigésima sexta Assembleia Geral eletiva, 19 a 22 de julho de 2022. Ao ritmo do processo sinodal, convocado pelo Papa Francisco, estamos unidas(os) a este grande mutirão na escuta atenta da VRC. Numa época de profundas, rápidas e líquidas mudanças, precisamos manter o olhar fixo na pessoa de Jesus Cristo para não perdemos a essência da nossa existência, pois, como Vida Religiosa Consagrada somos convocadas(os) a viver uma fidelidade dinâmica, adaptada aos tempos, sem perder a fidelidade ao carisma fundacional de cada fundador(a). Isso comporta um desafio constante, pois a profissão dos conselhos evangélicos, a vida fraterna e a missão, comportam um modo exclusivo de consagração que, fundada no Batismo, “supõe um dom particular de Deus, não concedido a todos” (VC 30. 36-37). Esse dom não pode ceder à tentação da autorreferencialidade, mas à criação de pontes e sinergia com a realidade dos tempos presente.
Nesse sentido, o pontificado do Papa Francisco tem se revelado como um inquietante processo de deslocamento do centro para as periferias existenciais e geográficas das pessoas, da sociedade e do mundo. Francisco pede a VRC que faça uma “memória deutoronômica” da fundação, da missão e das opções que fazemos hoje à luz do Evangelho, para sabermos olhar o passado com gratidão, abraçar o presente com paixão e abraçar o futuro com ousadia missionária. Trata-se de um dinamismo interno, um êxodo, que se projeta em nossos sonhos e realizações.
A próxima Assembleia Eletiva da CRB não poderia deixar de estar envolvida e seduzida pelas constantes chamadas do Papa Francisco. Não podemos deixar que nos roubem a capacidade de discernir o que temos que fazer e acompanhar os processos de inserção e respostas às demandas que brotam deste momento histórico da Igreja. O chamado a vivenciar uma fraternidade universal, além até da religião institucional como nos interpela a Fratelli Tutti, convoca-nos a sermos presença fraterna em todos os ambientes, com todas as pessoas, sobretudo, com aquelas que o Espírito Santo ajudou os fundadores(as) a olhar o mundo e sentir o mundo. Esse desafio de vanguarda é permanente na VRC.
Hoje, a pandemia, dividiu ao meio o nosso modo de ser. Vivíamos a corrida do FAZER muitas coisas e, agora, estamos num momento em que o questionamento sobre a nossa identidade, SER, de pessoas consagradas, clama por uma ressignificação do exercício do poder, da fraternidade, da missão, da centralidade de Jesus Cristo, da sinodalidade e da ousadia missionária. É preciso discernir o que “devemos fazer?” diante dos clamores do momento atual e do futuro incerto que chega e nos assombra. A VRC não tem todas as respostas, mas necessariamente precisa continuar a busca pelo sentido da sua existência.
É assim, que a preparação da 26ª AGE está movendo nossos interesses, buscas e significados. Por isso, após um período de escuta, com a assessoria técnica do casal Joaquim Alberto A. Silva e Raquel P. Andrade Silva, e do Irmão Marista Júnior, nos reunimos dia 10/12, na Obra Social Santa Isabel, em Brasília, a Diretoria Nacional, os Assessores Executivos Nacionais e a equipe interdisciplinar, para refletir e discernir a partir de nossas próprias contribuições ao processo, o que queremos como AGE e como realizaremos essa Assembleia dentro do dinamismo sinodal.
A primeira parte da reunião foi de fazer ecoar nossas próprias falas, destacando elementos da história, os temas que permeiam a VRC, a metodologia de trabalho e como, efetivamente, tornar possível a realização de uma Assembleia que tenha em conta o dinamismo da escuta, o empenho do discernimento e a clareza das opções para ressignificar o nosso SER pessoas consagradas na complexa realidade brasileira.
Uma segunda etapa dos trabalhos foi começar a sintetizar a grande diversidade de temas que emergiram das escutas. Parece que quanto mais escutamos, mais aparecem vozes que clamam por novas questões, porém, precisamos ter consciência de que não daremos conta de tudo, então, faz-se urgente o saber discernir para chegar ao essencial.
Surgiram então, temas que foram aos poucos sendo agregados em três dimensões: Identidade da VRC, Sinodalidade e VRC e centralidade da pessoa de Jesus Cristo e relações na intercongregacionalidade.
De olho na Palavra de Deus, chegamos a elencar uma diversidade de frases Bíblicas iluminadoras do processo, todas válidas, inquietantes, porém, foi o capítulo 15 de João nos impactou mais. Observamos que a comunidade de discípulos estava diante de uma crise, de incertezas e da iminente morte de Jesus. Então, a narrativa da videira e dos ramos, trouxe uma imagem muito forte para nós de unidade-comunhão-missão em tempos de polarizações e divisões. É preciso, de fato, “permanecer em Jesus Cristo” (Jo 15,4), para que os frutos de uma VRC em saída realmente seja significativo, profético e ministerial.
Terminamos o primeiro dia com essas inquietações. No dia seguinte, 11/12, a equipe interdisciplinar, com a assessoria do Sr. Joaquim, continuou o processo com o objetivo de discernir o tema central da Assembleia. Partimos da análise do dia anterior e fomos em busca de uma escuta mais atenta sobre o que, de fato, queremos com a AGE e como chegaremos a alcançar nossa meta. O trabalho foi árduo.
Depois de algumas trocas de ideias chegamos a uma formulação de tema geral, com alguns elementos que não podem ficar de fora, ou seja, a identidade da VRC, Sinodalidade e VRC, centralidade da pessoa de Jesus Cristo e relações na intercongregacionalidade, que deverão ser referência na preparação da VRC para a AGE. O tema escolhido foi: RESSIGNIFICAR A VRC NUMA IGREJA SINODAL. E o lema bíblico: “PERMANECEI NO MEU AMOR” (Jo 15,9). Contudo, estamos apenas no início do discernimento. De repente poderemos expressar melhor nossa meta.
Para favorecer o caminho de preparação e escuta, foi sugerida a composição de uma equipe de trabalho, sendo indicados: Ir. Eliene Barros (Diretoria); Ir. Susana Rocca, Ir.Joilson S.Toledo, Pe. Daniel L.Rocchetti (Equipe Interdisciplinar); Ir. Maristela Ganassini (Assessoria Executiva); Joaquim Alberto A.Silva, Ir. José Augusto Junior, Raquel P. Andrade Silva (Equipe Técnica). A comissão terá o mês de janeiro para elaborar o processo metodológico. No dia 07 de fevereiro, numa reunião online com a diretoria, assessores(as) e a equipe interdisciplinar, apresentará o cronograma das ações para ser avaliado. Na sequência teremos outras reuniões para dar continuidade ao processo.
Como diz o provérbio popular, “O caminho se faz caminhando”, ou no dizer do Papa Francisco, é fundamental, no processo sinodal, “superar o intelectualismo abstrato, o formalismo puramente técnico e o imobilismo que engessa no lugar de deixar caminhar. Acredito que estamos num bom começo e chegaremos a bom termo”.
Pe. João Mendonça, sdb