Maria: mística, profecia e esperança
A memória de Maria, mulher plena do Espírito Santo, anima, desafia, consola e acende a esperança na luta de milhares de pessoas, que sonham em experimentar, de forma plena, o Reino de Deus visível nas relações humanas, nos projetos sociais, na forma de organizar a sociedade. Tudo isso é sintetizado no canto de Maria em Lc 1,46b-55. Essa jovem de Nazaré da Galileia, que espera, com seu povo, a manifestação do Messias, é a mulher que conhece as esperanças da espiritualidade israelita, que contempla a realidade com os olhos da fé, atenta à vontade de Deus na vida cotidiana, mas que também medita em seu coração o que é necessário decantar, para fazer seu processo, em seu interior.
Após a anunciação da concepção de Jesus em seu ventre, Maria escuta a Palavra de Deus, questiona, tenta compreender a missão que o Senhor lhe dá. Não é uma missão simples, ela deverá tecer seus projetos, com aqueles de Deus. Aliás toda sua vida foi assim, porém é-lhe anunciado um projeto que a supera. Maria aceita e coloca-se totalmente a serviço daquele que a chamou para uma missão profética, e, diante da vontade divina, se faz serva. Plena de fé e obediente à Palavra de Deus se dispõe a exercer sua diaconia, no decorrer de toda sua vida, mergulhando no grande mistério de um Deus transcendente que se faz terrestre, de um Deus inacessível que se faz próximo. Por meio de seu “sim” temos a junção entre o anúncio da maternidade e sua vocação para uma missão profética, que consiste em anunciar para seu povo a libertação, de ser, portanto, a porta-voz do plano salvífico de Deus. Maria não se torna somente a mãe do Filho de Deus, mas a mãe das pessoas que têm fé, daquelas que persistem na esperança, mas também passa a ser a irmã de caminhada, a irmã na fé, que, como uma irmã mais velha, nos ensina a desafiante e extraordinária aventura da fé e da esperança, que consiste em se deixar guiar pelo imprevisível de Deus, pela insegurança dos caminhos não traçados, do se abrir ao Espírito, sem seguranças, trazendo no coração a única certeza da presença amorosa de Deus, que caminha com seu povo. Como dizia Edith Stein: “sabemos que somos guiadas pelo amor, porém não sabemos para onde ele irá nos conduzir”.
Após seu ato incondicional de fé, a jovem Maria, com certeza transtornada com todos esses acontecimentos, diante do seu “sim” sem reserva, sai apressadamente ao encontro do casal grávido: Zacarias e Isabel, e é nesse encontro de duas mulheres grávidas, que se apoiam nessa fase de suas vidas, que Maria compartilha sua experiência de fé, por meio do Magnificat. Nesse canto, tenta sintetizar o que pode compreender de sua contribuição no imenso e amoroso plano de Deus. Maria, ao gerar uma nova vida em seu ventre, plena do Espírito, entoa um dos cânticos mais proféticos do NT, em sintoniza com todas as mulheres do AT, mas também das pessoas de todos os tempos.
O hino de Maria é uma epifania, que com todo o seu ser agradece a Deus, revelando sua manifestação na história por meio de sua misericórdia e suas intervenções a favor do povo, sobretudo dos mais humildes. Após essa explosão de louvor, apresenta o projeto divino, que será realizado pelo menino que carrega em seu ventre, mas também por tantas Marias que sonham com um mundo carregado de justiça, igualdade, de esperança. De fato, Maria entoa o cântico da liberdade e da justiça de Deus, que instaura seu Reino no meio da humanidade. Justiça que perpassará todos os âmbitos: o religioso, o político e o social (Lc 1,51-53). Seu canto termina fazendo memória da fidelidade de Deus às suas promessas e anunciando a esperança de uma nova e definitiva Aliança com a humanidade, por meio do Messias Jesus e da colaboração de todas e todos que fazem experiência de um Deus misericordioso, santo, salvador, Senhor, que olha a aflição do povo, que inverte a lógica dos poderosos, ricos, orgulhos, que eleva, socorre os pobres, os famintos, os servos. Pessoas como Maria, que acreditam num Deus próximo, porque atua na história, grávidas da esperança e que fizeram do projeto do Reino um estilo de vida.
Diante do canto de Maria, nesse mês de maio, podemos nos perguntar: como ele pode nos ajudar em nosso itinerário de fé e a sermos pessoas místicas, proféticas, anunciadoras da esperança nos gestos cotidianos? Um profundo mês de maio.
Ir. Zuleica Aparecida Silvano, paulina