Quaresma e Campanha da Fraternidade 2025
Todos os anos, para nos prepararmos para a celebração da Páscoa do Senhor, – mistério fundamental da fé cristã – a Igreja nos propõe o tempo quaresmal, que não é simplesmente mais um tempo no calendário litúrgico, mas o ultrapassa, é itinerário de crescimento existencial, espiritual e humano. Como Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, neste tempo de graça cada cristão católico também o é, para com Ele e por Ele vencer as tentações exteriores e interiores.
À Vida Religiosa Consagrada – vocacionada à experiência batismal na radicalidade do Evangelho – o Ciclo da Páscoa fala de uma maneira toda especial. Fortalecidos no Espírito, os consagrados são convidados a vencer as inúmeras formas de tentações oferecidas pela cultura secular; como o individualismo, o hedonismo, o consumismo; entre tantas outras que podem influenciar de qualquer modo quem busca viver o Evangelho de maneira radical; portanto, cada consagrado é exortado, neste tempo de graça, a evitar as formas desvirtuadas da vivência da fé, tais como o mundanismo espiritual, as espiritualidades que visam apenas o bem-estar pessoal e assim por diante. Num mundo em que, segundo palavras do Papa Francisco, há perigo de “ser cristão sem Jesus”, a quaresma nos convida a irmos ao coração do Evangelho e nos reencontrarmos com Cristo, nosso ponto de partida, nosso ideal e nosso sentido de consagração.
A quaresma é, então, um dom, um presente que o Senhor nos oferece por meio da Liturgia de sua Igreja para vivermos nossa vida e consagração de maneira mais íntegra, coerente e autêntica, renovando o compromisso de uma vida pobre, obediente e casta, isto é, o compromisso de assumir um processo de constante conversão, com o coração indiviso e os olhos fixos em Cristo. É importante ter presente que essa conversão não se dá de maneira intimista ou moralista, mas de um modo real, concreto. Converter-se a Cristo crucificado-ressuscitado significa, também, converter-se aos crucificados do tempo presente. A fé nos faz esperar uma nova realidade, uma realidade escatológica e a esperança nos leva a viver essa realidade aqui e agora, vivendo todos como irmãos, portanto não é possível para um cristão buscar o Senhor na glória e ignorar o grito dos que sofrem.
A Igreja, no Brasil, oferece-nos a Campanha da Fraternidade, que busca criar consciência sobre a necessidade de converter-se num tema social e humanitário urgente para os nossos dias. O tema é escolhido com antecedência pela própria CNBB, por meio do conselho episcopal de pastoral, visando à devida preparação sobre a realidade para qual se faz o convite à conversão. Um modo bem concreto para cada católico aderir o Evangelho de Jesus, convertendo-se a Cristo e aos pobres. No tempo presente, não se pode esquecer que conversão integral é voltar-se para Deus e para os sofredores, mas tendo muito presente que o planeta Terra, insere-se no grito dos que clamam pela vida. Portanto a Campanha da Fraternidade deste ano quer nos ajudar a rezar, tomar consciência e atitudes concretas voltadas para o cuidado da nossa casa comum, mas não é a primeira vez. Durante os 61 anos de Campanha da Fraternidade, pelo menos 08, de algum modo, trouxeram a temática. Elas foram realizadas nos anos: 1979, 1986, 2002, 2004, 2007, 2011, 2016 e 2017.
Neste ano o tema será: Fraternidade e Ecologia Integral e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). As motivações são muitas, a maior, talvez, seja a tentativa de promover uma conversão integral na vida de cada pessoa de boa vontade; além disso, neste ano completam-se 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis; 10 anos de publicação da Carta Encíclica Laudato Si’; 10 anos de criação da Rede Eclesial PanAmazônica (REPAM). Outra motivação, também, é a realização da COP 30, em Belém (PA) e a recente publicação da Exortação Apostólica Laudate Deum.
- Diante disso talvez nos caiba a seguinte indagação: Como pessoa consagrada que sou, quais atitudes concretas tenho assumido em minha vida e comunidade, visando o cuidado da casa comum?
Que este tempo nos ajude num processo de conversão integral, ou seja, que os nossos olhos e coração estejam centrados no grande tesouro: Nosso Senhor, pobre, obediente e casto e que configurados a Ele, como Ele sejamos capazes de nos compadecer, cada vez mais, com os que sofrem; especialmente, neste tempo de graça, nossa casa comum. Que nossa conversão possa tornar-se testemunho de vida autêntica e frutuosa. Que a vida e proceder de cada consagrado, seja, em comunhão com São Francisco de Assis, um louvor a Deus por sua glória expressa na criação.
Pe. Michel Araújo Silva – Congregação da Missão
Missionário no Riacho Fundo II-DF